09 abril 2020
let love in.
Valter Hugo Mãe não se morde, antes, gosta de ir às lágrimas, é público e editado em calhamaços que custam vinte euros. Não há nada de errado, ou censurável, nisto, desde que não me ponham um televisor à frente rolando entrevistas ao escritor dos mil ofícios. Tortura. Toda aquela retórica angelical e sentimental de permeio com uma visão proteica da criatividade artística, a love letter incansável à arte, cansa-me e fico sempre a temer que ali há hipocrisia, algures. Tem um coração enorme, que aponta para a luz e grandes realizações humanas, um aparelho biológico lacrimante, mas é curioso como não aproveita a morte de uma forma obsessiva ou original. A morte é uma radicalidade, uma puta que te vai sugar de certeza; é por isso Valter Hugo Mãe, quando abre a boca, fala sempre com grandes palavras, ditongos e raciocínios de eloquência farta, drag queen da delicadeza, glam rocker da benignidade, santo que se faz vítima. Neste sopro avassalador, ainda não teve tempo para se contradizer: ele está do lado correcto - sempre um puto maravilhado, sentindo o iniciático, o redentor e os platonismos a um nível por poucos alcançável. Assim, peixinho no aquário sem deserto à vista, é fácil.
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